quarta-feira, outubro 21, 2015

Fatale

Nunca me esquecerei a primeira vez que a vi. Tomando rauchbier e fumando cigarro mentolado naquela espelunca da alemanha oriental, ainda havia o muro. Assim que bati os olhos nela, cabelos negros e lisos na altura dos ombros e óculos grandes de armação preta, nossa conexão foi imediata! Ela me deu abrigo em seu bunker quando lhe contei que estava sendo perseguida pelo regime.
Certo dia confessou-me com orgulho seus traumas de infância, que sua mãe, antes de deixá-la no orfato, mentiu à menina, dizendo que ela era hemafrodita na tentativa de minar sua auto-estima. Lá foi vítima de inúmeras gozações dos coleguinhas. 
Dona de indubitável beleza e desprovida de masculinidade, chegou na puberdade sem deixar dúvidas de que era uma mulher com M maiúsculo, arrebatando corações e enchendo de amargura as menininhas orfãs por ela apaixonada.
Assim seguiu, com sua flamejante vivacidade e esperteza, alheia aos traumas de infância, com a convicção reservada somente aos dotados de QI superior. Nem sequer a cicatriz em seu rosto fora suficiente para eclipsar seu brilho. 
Não tardou a conhecer Chirsta Maria e logo entrou para o serviço secreto, demonstrando assim sua vocação nata para o extraordinário e seu gosto por um estilo de vida perigoso. Assim nascia a hemafrodita, mas ao contrário de dois sexos, possuia duas personalidades: a atriz e a espiã. Encenando-as a seu bel prazer.

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